Biografia de Paulo Sérgio Santos
Minha aproximação com a música começou aos 4 anos de idade, quando peguei uma harmônica (gaita) de meu pai e tirei alguns hinos da igreja em Madureira, na qual fui criado. Continuei tocando intuitivamente sem nenhum estudo formal nos anos subsequentes.
Aos 11 anos de idade eu resolvi estudar com o maestro da banda da Igreja que se chamava Moisés Gomes. Estudei um ano e meio de solfejo e materias teóricas e então ele me deu uma clarineta de 13 chaves para que eu tocasse na banda de música da igreja.
Na banda, eu conheci um senhor que se chamava Luíz e que era o operador de som da igreja e que tocava clarineta. Ele fazia umas variações interessantes que despertaram em mim o interesse por improvisação. Mais tarde ele me confessou ter vivido intensamente o universo do "Choro", convivendo com alguns "chorões" dentre eles o próprio Pixinguinha que morava no bairro do Encantado.
Nessa época, cheguei a frequentar umas "rodas de choro" bastante especiais. Lembro-me de uma no bairro de Cascadura, na Rua Caparaó, onde estavam presentes músicos, os quais eu nao conhecia, de grande desenvoltura e aparentemente veteranos que cultuavam com fervor o gênero bastante tradicional de choro e samba.
Na banda da igreja eu conheci um clarinetista que se chamava José da Silva Freitas e que tocava exuberantemente a clarineta. De imediato, tornou-se um ídolo pra mim e passei a me interessar profundamente por música erudita.
Por sugestão do próprio José de Freitas, eu passei a estudar com o Professor José Botelho que era e ainda é um ícone da clarineta no Brasil, na Escola Villa-Lobos na rua Ramalho Ortigão, no Rio de Janeiro, por volta de 1974.
Comecei então a participar de concursos musicais e um dos primeiros e mais importantes concursos foi o de "Jovens Instrumentistas da TV Globo" onde eu obtive o primeiro lugar.
O grande clarinetista de "choro" ABEL FERREIRA assistiu a uma destas apresentações televisadas e me indicou como o seu sucessor num programa do Fantástico em cadeia nacional.
Por indicação do Prof. Botelho, eu passei a integrar o Quinteto Villa-Lobos em 1975.
No QVL eu conheci Airton Barbosa que tocava fagote e que era uma pessoa muito bem engajada politicamente. Airton gostava muito de música popular e conhecia vários artistas importantes. Nessa epoca, eu conheci o pessoal do "choro": Joel Nascimento, Henrique Cazes, Maurício Carrilho, Beto Cazes, Luiz Otavio Braga, Beth Carvalho dentre muitos outros e passei a frequentar as rodas de choro. Realizei com o QVL inúmeras apresentações no Brasil e no exterior.
O conceito mais importante do Quinteto Villa-Lobos daquela época até hoje era o direcionamento do nosso trabalho para a música brasileira, com obras originalmente escritas para esta formação e tambem arranjos de música popular e transcricoes. Procurávamos tocar música de qualidade, fosse erudita ou popular.
Por volta de 1975, eu passei a integrar a então recém-fundada Orquestra Sinfônica da Universidade Gama-Filho, cujo diretor era o Maestro Isaac Karabtchewsky. Assim, com aproximadamente 16 anos eu comecei a tocar o repertório orquestral e aos dezoito anos eu passei a ser o primeiro clarinetista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Eu comecei a tocar saxofone profissionalmente na Orquestra Filarmônica Mundial que realizou um concerto no Rio de Janeiro sob a regência de Lorin Maazel em 1985.
Toquei 18 anos na OSTM e, nesse período, eu toquei muitos concertos com o Quinteto Villa-Lobos e realizei muitas apresentações como solista de Orquestra e outras formações camerísticas e também com formações intrumentais de música popular.
Trabalhei muito com os renomados maestros Mario Tavares e Henrique Morelembaum e muitos regentes convidados pela OSTM.
Em 1994 eu gravei 2 cds muito importantes que foram "O TRIO" e o "SEGURA ELE".
O CD "O TRIO" foi gravado em Paris, em 1994, juntamente com Maurício Carrilho e Pedro Amorim. Trata-se de um cd muito importante pois, acredito ter sido um dos primeiros a sugerir uma abertura do gênero "choro", tentando unir num mesmo cd, estilos musicais distintos em sua origem mas interligados no tempo e esteticamente. Assim esse cd reune obras de compositores como Radamés Gnattali, Pixinguinha, Scott Joplin, Piazzolla dentre outros. Ganhamos dois premios SHARP com este trabalho: Melhor Cd Instrumental e Melhor Grupo Instrumental. Neste mesmo ano, ganhei também o premio de "Revelação" com o meu disco Segura Ele.
O CD Segura Ele foi o meu primeiro disco solo. Pude contar com valiosíssimas participações como Marco Suzano, Tuti Moreno e Raphael Rabello. Neste trabalho, gravei algumas faixas que onde eu toquei vários instrumentos superpondo canais com as várias vozes diferentes dos arranjos de Maurício Carrilho, Egberto Gismonti e Jacques Morelembaum. Nas faixas com Raphael Rabello, um alto nível de virtuosismo ficou registrado e foi uma das últimas gravações do Raphael que faleceu alguns meses depois.
Devido ao grande número de atividades diferenciadas com música de câmara e música popular, acabei me desligando da OSTM por não conseguir conciliar todos os meus compromissos profissionais. Lembro-me que na Eco-92, teve um dia em que eu me apresentei em 5 concertos diferentes.
Gravei em seguida os cds: "35 Anos de Música Brasileira", "Fronteiras" e "Quinteto Villa-Lobos Convida".
Em 2001 gravei o meu segundo cd solo pela gravadora Kuarup: o "Gargalhada". Basicamente, este cd foi gravado com as participações de Caio Márcio (meu filho) no violão e Bolão, na bateria e percussão. Conquistei os mais importantes premios que foram o "Caras" e o "Rival", na categoria de melhor solista, neste ano de 2001. Este trabalho já continha algumas músicas de minha autoria como o Homenagem ao Abel, Samba Chorado e Choro Sambado.
Então, com o Quinteto Villa-Lobos em 2004/2005, registramos em um CD Duplo, toda a obra de câmara de Heitor Villa-Lobos que continha instrumentos de sopro. Este trabalho foi indicado para o premio Caras.
Em 2006 gravamos em seguida o cd "Um Sopro Novo", com o patrocínio da Petrobras e com o Selo Radio Mec.
Em 2007, gravamos mais um álbum duplo com quintetos originais de compositores veteranos nascidos entre 1926 a 1974.
O Quinteto Villa-Lobos, cuja última formação é Antônio Carrasqueira, flauta; Justi, oboe; Philip Doyle, trompa; e Aloysio Fagerlande no fagote, tem realizado muitas apresentações por diversas cidades brasileiras e no exterior sempre enfatizando o repertório brasileiro. Um conjunto com 45 anos de existência, talvez seja o mais antigo em atividade no Brasil.
Meu trabalho com o Guinga, merece um destaque. Participei de todos os seus cds com exceção do primeiro. No seu ultimo CD "Casa de Vila", fiz um arranjo para 8 vozes e toquei todas as clarinetas e saxofones. Tocamos também bastante fora do Brasil e acabamos de gravar um cd com suas obras e a inusitada formação de clarineta e violão. Este trabalho irá sair também em DVD, em breve.
Em 2007 com o meu trio formado por Caio e Bolão, participamos do importante Festival de Jazz de San Sebastien (Espanha) onde tocamos exclusivamente música brasileira.
Muitas pessoas me perguntam como eu consigo tocar música popular e música erudita.
Tenho a impressão de que, como dois idiomas diferentes, tive a oportunidade de muito cedo ter contato com a música de câmara através do Quinteto Villa-Lobos e através dos 18 anos que trabalhei na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O meu contato com a música popular se deu de maneira independente e inicialmente como um entretenimento. Posteriormente eu passei a trabalhar profissionalmente também com a música popular.
Tive bastante experiência didática quando fui professor de clarineta na Uni-Rio e também professor de saxofone na mesma instituição, além das inúmeras oficinas ministradas em diversas cidades do Brasil e no exterior.
Álbuns com a participação de Paulo Sérgio Santos
- Zequinha de Abreu (2ª edição) (songbook)
- Joaquim Callado (2ª edição) (songbook)